sábado, 21 de março de 2015

A EPIDEMIA DO ANALFABETISMO SOCIOLÓGICO DE NOSSA NAÇÃO

Vivemos uma época de total analfabetismo sociológico, de cegueira completa e alienação generalizada, onde nossa sociedade mergulha nas trevas de uma idade média primitiva e incongruente. Uma determinada pessoa dias destes publicou no facebook o seguinte ditame: “eu quero a volta do Regime Militar, pois eu não fui ladrão de banco, não fui bandido, não fui assaltante, não fui irresponsável, não fui rebelde, não fui terrorista, não fui subversivo, não fui vagabundo, por isto eu quero o Regime Militar de novo no país!” Os intelectuais brasileiros, os maiores cientistas, escritores, teatrólogos, pesquisadores, artistas de primeira linha, pensadores também não foram bandidos, mas tiveram que sair às pressas do país porque um Regime Totalitário com pleno direito sobre a vida e a morte assumia o governo desta Nação. Eu poderia ter perguntado a esta criatura se por acaso ela lia Kant, Kafka, Fernando Pessoa, Drummond, Castro Alves, Jorge Amado, Paulo Freire, Gilberto Freyre, Cecília Meirelles, Allan Poe, Pablo Neruda entre outros mil. Também se conhecera as obras de Dali, Picasso, Woody Allen, Glauber Rocha, Charlie Chaplin, Pasolini, Hitchcock, Buñuel, entre outros milhares de intelectuais de todas as áreas do conhecimento. Com certeza também nunca dera atenção a Caetano, Raul Seixas, Sérgio Sampaio, Chico Buarque, Gil, Geraldo Vandré entre outros mil! Em curtas palavras poderia ter-lhe feito uma pergunta luminosa e numinosa: “qual foi a formação que você teve desde o seu grupo escolar?” Certamente que não poderia ter-lhe perguntado se estudara Filosofia ou Sociologia durante sua vida escolar, pois foi-lhe sacado este direito a partir da Ditadura Militar e portanto aí está a chave mestra da sua cegueira social. Quem não sabe que os Regimes Totalitários que estão acima da Lei são expressões políticas anteriores a quaisquer idéias acerca de democracia, estado, relações entre poder e sociedade, vindas de tempos remotos das sociedades greco-romanas? Então vamos quebrar toda a nossa tecnologia de idéias e conhecimentos e regressarmos ao paleolítico das relações inter pessoais? Este é o primeiro ato deste texto. Ele solicita a volta do ensino da Filosofia e da Sociologia deste os primeiros anos do Ensino Fundamental. Em outra ocasião estava em um aeroporto e uma pessoa ao meu lado, intitulando-se empresário em São Paulo, apontou para o chão e disse-me: “depois que privatizaram a limpeza podemos até deitar neste chão e mais do que isto podemos deixar cair comida no chão e comer!”. Olhei para ele estupefato, pois a alguns metros de nós revarria aquele chão um funcionário vestido com um macacão aeroespacial, muito magro, amarelo e estupidamente terceirizado. Encontrava-se nas mesmas condições de um trabalhador braçal logo nos primórdios da eclosão da era industrial. Deve morar na periferia, passar fome de tudo, de moradia, de alimento, vestuário, educação para os filhos, saúde para a família, lazer e atrás daquela vassoura inconscientemente navega com a alma escancarada esperando a morte chegar. Lembrei-me de uma música que as Irmãs de Caridade cantavam: “para mim a chuva no telhado é cantiga de ninar, mas ao pobre meu irmão, para ele a chuva fria, lhe desmancha o seu barraco e faz lama pelo chão! Como posso ser feliz e ter sono sossegado...” Aquele olhar empresarial eu qualifico de olhar de umbigo. Só vê o umbigo e ao redor dele. Olhar medíocre e pequeno. Olhar que não atravessa a vidreira do aeroporto. Olhar que não alcança a pista, não prolonga pela avenida nem se distancia ao ponto de mergulhar na pobreza, na miséria, na tristeza cotidiana daqueles nossos irmãos que vivem amargamente nas periferias, sem infra-estrutura alguma e sem nenhuma solidariedade social. Esta periferia não se encontra somente no lugar físico e distante dos bairros nobres, mas está pulverizada em todos os lugares públicos, através da exploração do trabalhador, da deportação do cidadão dentro do seu próprio País e da escravidão disfarçada. Ora, se você quer ter paz social vá ao encontro do banido social. É a partir de lá que chegará até ao seu umbigo a tão almejada tranqüilidade. Enquanto o último não tiver solucionado seu problema social você não será o primeiro da sociedade. Não foi à toa que o Governo Brasileiro lançou a alguns anos o seu Programa Fome Zero e Bolsa Família. Não vamos discutir aqui os fundamentos deste programa, porque não nos cabe reduzir-nos a dissertar opiniões sobre um programa que ainda está no limiar do seu nascimento. O que eu poderia dizer àquele neoliberal ao meu lado? Nada! Pois se ele não sabe que o liberalismo surgiu antes das idéias marxistas, como o liberalismo pode ser neo? Como algo pode ser mais novo do que uma criança se está no lugar do seu tetravô? Este paradoxo, esta inversão política, não permite nenhuma dialética e destrói o mecanismo sadio das relações sociais. Eu chamo a isto de falácia das palavras. Você inventa uma palavra mágica, encantadora, sedutora como o canto da sereia para enganar as multidões e regressar ao massacre e à escravidão total dos trabalhadores. Mas se você não colocar cera nos ouvidos ou não se amarrar no mastro desta embarcação a vagar como fizeram os marinheiros e Ulisses, com certeza não conseguirá perscrutar além do seu umbigo. Este é o segundo ato deste texto. Ele e o terceiro ato a seguir requerem a volta do ensino da Sociologia e da Filosofia para os bancos escolares desde o Ensino Fundamental. Só assim teríamos um antídoto para impedir o fim de nossa democracia e república, com esta epidemia do analfabetismo sociológico de nossa Nação. Eu possuo uma mania do Rubem Braga e de quando em vez gosto de circular no meio do povão, porque isoladamente, misticamente e solitariamente sou este povão aí, no meu modo reservado de ser. Estava perto de uma banca de revista, quando uma mulher olhou para mim e com certeza pensando que sou muito inteligente, carrego este estigma na face desde o dia em que coloquei óculos pela primeira vez em minha mocidade e me perguntou quando começaria de novo o Big Brother Brasil? Eu disse que não sabia, mas poderia ter-lhe dito que justamente naquela hora em que as pessoas tomassem consciência dos porões de suas relações intra-psíquicas e deixassem de ser exploradas pela sagacidade da mídia, que as saqueiam ininterruptamente, porque sabem dos arquétipos do voyeur que habitam dentro das criaturas humanas desde as noites dos tempos. Dizer que a imprensa é tola seria profanar o templo da tolice, porque quando o ser humano dotado de conhecimento ultrapassa o reino da verdade em nome do poder, do capital e do sensacionalismo medíocre e profano do saber acadêmico é construir um punhal à distância que furará um dia o cerne do seu próprio coração à medida em que caminha. Desejar voltar a um passado que não existiu, um passado que não foi glorioso porque foi ditatorial, foi paleolítico e agora pretende ser neolítico; um passado que não existiu porque o ser foi anulado em sua essência, assim como não possuir uma captação telescópica nos sentimentos ao ponto de não perceber as necessidades do outro e ainda assim deixar-se arrastar por esta correnteza inescrupulosa da volúpia de uma parte dominante da mensagem midiática pelo poder, ibope e capital conforme acima relatei, é um sintoma que o analfabetismo sociológico tornou-se uma epidemia nacional. Que a imprensa tenha o direito de opinar politicamente é mais do que justo e legal, mas que não fuja do universo da verdade. Os gregos quando se referiam à verdade, diziam ALETHEIA, ou seja, a verdade é o que está aí, é o que não se oculta. A verdade é como o sol, penso. Mas alguém diria que o sol se esconde à tarde. Mas o sol nunca se turva, porque ele está brilhando para o outro. Está entre aspas renascendo sempre. Quem tem a mente holística, fenomênica, não ignora o esplendor do noumenon. A Imprensa Marrom que corrompe a ética jornalística e se assenta sobre o sensacionalismo utiliza-se deste aspecto reduzido da percepção humana, tornando-se correlata com o conhecimento vulgar e aproveitando-se disto, para tirar todas as vantagens possíveis, mas que está a correr o risco de ser expulsa deste devenir do édem criado por manipulação capitalista; desta espécie de cidade do tesouro ou terra do shangrilá das benesses. VERITAS é o termo latino para verdade e agora sim reafirma sobre o procedimento da linguagem e sua equação com os fatos ocorrentes. Portanto, o relato só é verdadeiro se possuiu total transparência com os acontecimentos. Você já viu aquela experiência grupal em que o primeiro diz no ouvido do segundo uma frase até chegar ao enésimo da fila e quando este diz o que ouviu todos ficam estupefatos, pois não tem nada a ver com a frase inicial. A Imprensa Marrom por não ter a coragem de ir à raiz, ao cerne das questões sociais cria um panorama, uma odisséia de informações estonteantes para embriagar ao público, anestesiá-lo e hipnotizá-lo, possibilitando desta forma que os lobos tomem conta do galinheiro; pois é justamente isto que os exploradores dos povos necessitam para estabelecer suas regras de opressão e escravidão. EMUNAH é a verdade em hebraico. Ela é um pacto entre o divino e o humano. Há um procedimento hebraico pautado sobre o perdão, a gratidão e a esperança. Perdoar é doar-se junto ao outro, ser grato é ser pleno da graça divina e esperar é não perder o foco. Tudo o que nós alcançamos em termos de cidadania, igualdade, fraternidade, liberdade, democracia, república, solidariedade, ética e etecétera digo eu, se jogarmos no lixo através de nossas obras artísticas incluindo o trabalho jornalístico estaríamos ignorando o perdão, porque nem mesmo nós somos infalíveis; estaríamos sendo ingratos com a luta e o sangue daqueles que nos presentearam estes direitos e deixaríamos um legado de desespero às novas gerações possibilitando o último vôo dos urubus, que estão em pé sobre as estacas das cercas esperando o boi morrer.

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